Publicado em: LER-QI.org
Mal passadas 24 horas da celebração do dia da consciência negra o governo do Estado do Rio de Janeiro apagou suas homenagens a Zumbi e já garantiu mais de vinte seis mortes no Rio de Janeiro e Região Metropolitana. Mortes sobretudo de negros. Este é o número oficial até a meia-noite de 25/11 e seguramente será seguido por dezenas mais. Esta ofensiva policial vem como suposta resposta às ações conduzidas supostamente integradas pela duas maiores facções do tráfico, como as queimas de veículos e fuzilamento de alguns postos policiais. A ação do tráfico estaria, segundo o governo, contra as UPPs. A mídia vem desencadeando uma virulenta campanha pela pena de morte, instalação de UPPs em todas comunidades para vigilância contra o “terrorismo” (este é o termo empregado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes).
Estas ações do Estado bem como a campanha midiática visam justificar a pena de morte de facto que existe contra negros e pobres nos morros e favelas, e angariar apoio das classes médias e de trabalhadores de outras regiões bem como das próprias comunidades envolvidas nesta repressão “anti-terrorista”. A burguesia busca criar um território de “bandidos” onde toda e qualquer ação sua, sangrenta como for e sem nenhuma comprovação dos mortos serem criminosos, é justificável. Querem com suas balas, caveirões e programas de TV e rádio fomentar uma situação reacionária que justifique uma escalada repressiva com mais UPPs e mude a cara da cidade e sua população em preparação à Copa do Mundo e às Olimpíadas.
Neste confronto não há lado e nem interesses que são favoráveis à classe trabalhadora, à juventude e ao povo negro. Os interesses das facções do tráfico são os seus negócios. Os interesses do governo do Estado, da burguesia e sua mídia são esta ofensiva repressiva contra o conjunto da população pobre, “sanear” a região derramando sangue, estimular ainda mais a especulação imobiliária favorecida com a instalação de UPPs, “preparar” cidade para 2014. No fogo cruzado de dois interesses reacionários fica a população do Rio de Janeiro.
Moradores de diversas comunidades estão ilhados, aprisionados, em meio ao confronto. Em diversos bairros periféricos da capital e em cidades da Região Metropolitana (Baixada Fluminense, Niterói e região) as escolas e comércios estão fechados semeando um clima de pânico funcional a apoiar a incursão policial nos morros e favelas.
Excetuando-se as mais de cem prisões feitas em um local de uso de crack, as prisões efetuadas pela polícia são quase em número idêntico as de mortes. Não se trata de “repressão ao crime” mas de execução sumária dos suspeitos. Os suspeitos via de regra são negros e pobres. A polícia que está defendendo a “ordem” é diretamente responsável por boa parte da violência. Os supostos “autos-de-resistência”, denunciados até pela ONU, são freqüentemente pelas costas e à queima-roupa, ou seja, são execuções, uma pena de morte de facto imposta pelo Estado a seu bel-prazer, alcançando cerca de 20% dos homicídios nos números oficiais. Os “salvadores” da situação são diretamente responsáveis, mesmo em suspeitos números oficiais, por boa parte da violência.
Aos trabalhadores não cabe apoiar nenhum fortalecimento daqueles que fazem todo trabalhador e morador de morros e favelas a se sentir reprimido e ter medo de protestar frente a qualquer situação. Este medo vai contra os interesses dos trabalhadores e da população e só favorece à burguesia.
Com o apoio de Lula o governador Sérgio Cabral pretende aumentar o clima de guerra da cidade. Lula irá despachar nos próximos dias dezenas de blindados da Marinha para as operações de ocupação. Nutridos das experiências de repressão no Haiti, e agora com as mesmas armas pretendem impor uma nova ordem sangrenta nas comunidades do Rio de Janeiro e Região Metropolitana. Este conjunto de ações de Sérgio Cabral não visam somente a ocupação das comunidades e sua repressão, mas gerar um clima social favorável a maior repressão da população e até modificação das leis para este fim. Beltrame, seu secretário de segurança, homem intocável em seu governo, anunciou que a principal lição da situação seria pressionar os deputados para modificar as leis, declarando-se contra a reincidência e os “menores bandidos”. Através do pânico, terror e assassinatos, querem defender a pena de morte e redução da maioridade penal. Criminalizar ainda mais os pobres e os negros.
A mundialmente incomparável desigualdade social, o desemprego da juventude e sua falta de perspectiva são motores para os jovens serem aliciados pelo tráfico. Esta situação não é enfrentada pelos governos Lula, Cabral, Paes e outros prefeitos. O combate que fazem é de reprimir mais os jovens, sobretudo os negros. De suas mãos não conseguiremos nem a segurança para nosso dia-a-dia, nem muito menos debelar a miséria e a desigualdade que leva nossos irmãos e filhos a serem bucha de canhão de interesses reacionários, seja nos concursos policiais seja na cooptação do tráfico.
Chamamos as organizações de direitos humanos, os sindicatos, as centrais sindicais, as entidades estudantis, os partidos de esquerda, e antes de mais nada o recentemente bem-votado e conhecido defensor dos direitos humanos Marcelo Freixo do PSOL, a organizarmos imediatamente uma campanha pela retirada das tropas policiais dos morros e favelas e contra os interesses reacionários dos dois lados envolvidos nesta disputa de lucros e repressão.
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