9.11.09

A paz não brota da fome, da polícia e do capitalismo com suas misérias e horrores


Por Vinícius Pena, do Rio de Janeiro
Gentileza: Palavra Operaria N° 63


De onde provem a violência, quem a promove e quem pode garantir o seu fim?

A nova onda de violência no Rio de Janeiro acentua o medo da população carioca. As intervenções policiais nos morros e os tiroteios diários com traficantes que terminam com vítimas em sua grande maioria ditas “suspeitas” e civis provenientes das balas perdidas do confronto entre policiais e traficantes (ainda que as poucas perícias constatam que a maioria das mortes provêm das armas policiais), têm perturbado, de diferentes formas e intensidade, o já violento cotidiano do carioca, transformando o ambiente de suposta festa da escolha Olímpica. As medidas ditas de segurança de Paes e Cabral, apoiadas pelo Governo Federal tentam se aproveitar da sensação de medo e insegurança que se aprofundam para obter maior apoio e respaldo as suas políticas de criminalização da pobreza, promovendo através das “mãos fortes” dos governos e da polícia a busca para uma solução da violência. Lula e Cabral aproveitaram o incidente da queda do helicóptero da PM para acelerar o processo de intervenção nos morros como forma não só de limpar o Rio para a “festa” olímpica e a Copa do Mundo, mas também para garantir seu projeto de desenvolvimento do Rio e enriquecimento de grandes empresários investidores, a custa e uma superexploração dos trabalhadores, em grande parte, moradores dos morros e favelas. Essas tentativas demagógicas com base em uma política do medo, tentam ocultar que a violência que buscam combater é em grande parte criada pelos mesmos supostos “pacificadores”.

Polícia e governos capazes de combater a violência?

As recentes investidas policiais nos morros e favelas da zona norte, subúrbio e região metropolitana demonstram que as chamadas políticas de segurança continuam sua prática de “subir no morro e deixar corpos no chão”, tal qual anuncia o canto de guerra do BOPE, comprovados pelas estatísticas da semana. No entanto, a continuidade dessa política tem se combinado com um maior investimento nas Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP), que consiste em ocupações permanentes da polícia no morro, com controle militar sobre o cotidiano dos moradores. Proibições de festas da juventude, reuniões, livre circulação, e imposições inúmeras sobre o comportamento dos moradores, revistas e humilhações policiais constantes. Com a ajuda da mídia, em especial O Globo, que dedicou uma séria de reportagens , busca-se mascarar o projeto, vendendo a idéia de uma polícia cidadã que contribui para o fim da violência e a civilização da “bárbara favela”. A tentativa de pintar a realidade do projeto de “segurança” do governo de rosa buscando apoio da opinião pública não sobrepõe o sangue vermelho dos pobres e negros que continua escorrendo. A polícia que tentam passar como humanizada ao amarrar o cadarço do menino do morro ou ao conversar com a comunidade, é a mesma polícia que está entre as que mais matam no mundo. A mesma polícia que invadiu no dia 22/10 uma casa na comunidade Cachoeirinha e agrediu um jovem de 18 anos, com socos e pontapés, tendo depois o sufocado com um saco plástico, em cena semelhante à que ficou famosa no filme Tropa de elite . Ou ainda, a mesma polícia que se recusou a socorrer uma vítima de latrocínio e roubou os próprios assaltantes enquanto a vítima agonizava até a morte. Entre os policiais estava um Capitão, responsável pelo policiamento do centro da cidade. Philip Alston, enviado da ONU para realizar um relatório sobre violência no Brasil aponta que os dados no Rio de Janeiro aproximam-se dos de Pernambuco, onde o Ministério Público estima que mais de 70% de todos os assassinatos tem ligações com a polícia e os grupos de extermínio.No auge da demagogia da polícia cidadã, essa se fez valer por 269 mortes em “autos de resistência” em 3 meses . O histórico recente da polícia por si só comprova que toda a estrutura da instituição é podre, e esta é servente a seus propósitos. Como afirma o Le Monde, “em dez anos, mais de 1.700 policiais foram expulsos da corporação” , entre esses, componentes de grupos de extermínio, milícias, práticas de favorecimento e de ligação com o tráfico, além de denúncias de numerosos casos de estupros, torturas e grupos envolvendo membros do próprio Estado, como no caso do ex-chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins , e seus esquemas de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, demonstração cabal de que não é o “aviãozinho” de chinelo e bermuda que morre diariamente que lucra de fato com o tráfico, e sim os representantes da “alta sociedade”, setores do Estado e da suas instituições que se propõem sinicamente a combater a violência. A burguesia, com seus heróis policiais, é incapaz de resolver a violência, tanto por ser a principal impulsionadora desta, seja na miséria que seu sistema proporciona, seja diretamente através da polícia, quanto pela funcionalidade da violência ao seu sistema de exploração.

Por uma resposta dos trabalhadores

Os trabalhadores, o povo pobre e todos que sofrem com a violência nada podem esperar da burguesia e de suas instituições como a polícia, pois quem tem o sangue dos moradores pobres e negros dos morros e favelas em suas mãos, não pode propiciar a paz. O capitalismo só pode oferecer mais violência e medo. Somente os trabalhadores podem oferecer uma real saída para a violência. A polícia, instituição existente para garantir a inviolabilidade da propriedade privada e do status quo, não pode ser reformada, nem humanizada a serviço dos trabalhadores, tendo necessariamente que ser abolida e substituída pelos próprios trabalhadores armados, garantindo sua própria segurança através de comitês de auto-defesa junto a seus sindicatos, associações de moradores e movimentos populares. A extinção da polícia combinada com um programa de distribuição de todas as horas de trabalho para que não haja desemprego, aumento do salário mínimo de acordo com os R$ 2.000 estabelecidos pelo DIEESE, verdadeiros programas populares de moradias, educação e saúde, financiados por impostos progressivos às grandes fortunas, juntamente com as verbas provenientes do não pagamento das divida externa e interna, é a única e real forma de combater a violência, programa que só pode ser levado à frente pelos trabalhadores em aliança com os setores oprimidos contrapondo a anarquia da miséria capitalista com uma organização racional e planificada da economia. Chamamos todos partidos e organizações políticas e sociais que se colocam como operárias, populares e revolucionárias que se superem as notas de repúdio e coloquem ativamente para erguer uma grande campanha contra a ofensiva policial e ao massacre da população pobre e negra dos morros, desde os locais de trabalho, dos sindicatos, das universidades e colégios, através das entidades estudantis, coloque-se ativamente em defesa ativa dos moradores dos morros e favelas.


BOX: Último Momento: Tortura em cadeias de SC

No fechamento desta edição vieram a público as denúncias e imagens da brutalidade da polícia catarinense contra presos em absurdas cenas de tortura. Em todo país enquanto milhares são massacrados todos os ano nos morros e favelas nos chamados “autos de resistência”, outros milhares são submetidos a humilhações, torturas e assassinatos nas cadeias em vários pequenos e diários Carandirus. Enquanto isto os policiais assassinos e torturadores seguem impunes, os torturadores, os financiadores e beneficiários da ditadura militar seguem impunes e até o direito à verdade e memória é negado, a abertura dos arquivos da ditadura são negados pelo governo Lula tal como eram no governo FHC. Exigimos a punição de todos os envolvidos começando pelos diretores das cadeias e o alto mando do sistema prisional e policial catarinense. Chamamos todas organizações operárias, populares e democráticas a denunciarem este fato, lutar pela punição dos envolvidos e pelo fim da polícia e do sistema prisional feito para humilhar, espancar e matar trabalhadores e pobres.






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